James vibrou com a notícia: um humorista havia sido condenado à prisão pelas piadas de teor criminoso. “Enfim, justiça!”, digitou com fúria e emojis de aplauso. Mas James não é exatamente um paladino da virtude. Em grupos fechados nas redes, seus comentários costumam flertar com o grotesco. Ele ironiza tragédias, debocha de minorias e, por ora, escapou da responsabilização. Ainda.

Elio já foi desse mesmo grupo. Saiu porque virou alvo da mesma intolerância que antes silenciava com risos nervosos. Comentários antigos seus vieram à tona — erros cometidos, sim, mas agora julgados por uma multidão sem rosto. O cancelamento foi fulminante.

A administradora do grupo, antes queridinha pelos seus textos e preocupações, anda com a Constituição de 1988 e o Código Penal debaixo de seus braços. O Marco Civil da Internet também está lá. Afinal, se aquele grupo cair naquela rede social, a conta da mesma está sujeita a cair em simultâneo. Tentar conciliar liberdade com responsabilidade virou uma carga insustentável. Até um fotógrafo que participava ativamente do grupo está afastado, em tratamento. O ambiente que um dia foi “livre e irreverente” virou um campo minado emocional e jurídico. E agora, como proceder sobre essa bola de neve?

“A vaidade é meu pecado favorito”, sussurra o Diabo

No filme O Advogado do Diabo (1997), Al Pacino interpreta o próprio diabo disfarçado de advogado. Mas o que ele realmente manipula não é a lei — é o ego. Ele seduz com a ideia de superioridade moral, de estar certo, de julgar o outro sem olhar para dentro.

A condenação de um humorista pode até parecer uma vitória para alguns. Mas ela expõe, na verdade, a fragilidade do pacto social em tempos de redes. Todos querem justiça, mas poucos aceitam o espelho. Há uma fronteira fina entre liberdade de expressão e discurso de ódio. Essa fronteira muda conforme o humor da multidão e também muda de acordo com a jurisprudência da semana.

James, Elio, a gestora do grupo e o fotógrafo estão todos dentro de um sistema. Ninguém está imune à responsabilização, mas todos agem como se estivessem acima dela. Assim como no tribunal do filme, onde a lei parece moldável aos interesses do mais sedutor, nas redes o moralismo seletivo dita quem merece perdão e quem será apedrejado.

Quais as lições tiradas pelo filme sobre isso? Que a regulamentação da comunicação seja integral. Isso retiraria o peso que é dado silenciosamente sobre o administrador de um grupo. Aliás, este administrador poderia processar a plataforma por estar atuando, em nome da mesma, sobre os usuários que ali estão. E isso acontece sem ele receber um único centavo, mas ele gasta com psicólogos.


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